Ricardo Nascimento / Lusa
Buscas por Maddie McCann na Barragem do Arade
Entra-se, nesta quinta-feira, no terceiro dia de buscas por Maddie McCann na barragem do Arade, no Algarve. Até agora nenhum sinal foi encontrado para tentar desvendar o que aconteceu à criança inglesa há 16 anos. E o ex-inspector da Polícia Judiciária Gonçalo Amaral teme que se “plantem” provas no local.
No segundo dia das buscas por Maddie, foram visíveis trabalhos de desmatação em diversos locais junto a um dos braços da bacia da barragem, local que tem sido alvo de especial atenção das autoridades policiais.
Elementos da Protecção Civil e dos Sapadores Florestais, munidos com motosserras, roçadoras e um destroçador de mato, efectuaram a limpeza de zonas perto de aglomerados de árvores e arbustos.
Apesar das movimentações no terreno, acompanhadas por investigadores das polícias portuguesa, britânica e germânica, não foram reportados quaisquer indícios ou elementos que possam ajudar a desvendar o desaparecimento de Maddie McCann em Maio de 2007.
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Para o ex-inspetor da Polícia Judiciária (PJ), Gonçalo Amaral, que liderou a investigação portuguesa aquando do desaparecimento da criança em 2007, estas buscas “são estranhas”, como diz à Rádio Renascença (RR).
“É um pouco estranho este orçamento e meios no terreno para esta operação. Pergunto porquê? Para isto, é preciso ter fundamentos fortes e não são apenas um simples ‘ele estava neste local, por isso vamos ali procurar'”, refere o ex-PJ.
“Porque não na barragem de Santa Clara a Velha, mais acima, onde ele também ia e era assíduo e havia uma comunidade alemã? Há aqui algo que não funciona“, considera ainda Gonçalo Amaral.
“Há muitos cabelos da miúda, a família tem, a polícia inglesa tem”
“Já ouvi que andam à procura de objectos, o que havia era o pijama, nem meias havia, nem chinelos, e há o corpo da miúda onde havia também cabelos”, acrescenta o ex-PJ.
Gonçalo Amaral lembra que a investigação portuguesa chegou a pedir pijamas à fábrica que produziu aquele que Maddie vestia aquando do desaparecimento, para ter amostras do tipo de tecido. A polícia inglesa também terá amostras.
“A partir de agora, não sei como se controlam os pijamas e não sei o que pode acontecer. Sei que há muitos cabelos da miúda, a família tem, a polícia inglesa tem, Portugal tem e do suspeito também há”, atira ainda o ex-inspector, lançando a suspeita de que se podem “plantar” provas na barragem.
“Os pais e os amigos não podem ser responsabilizados e é preciso um bode expiatório e está aqui! Ao fim de oito anos, é isto”, acusa Gonçalo Amaral na RR, frisando que “a investigação alemã quer apenas provar que este indivíduo tem algo a ver com este caso”.
“Com tanto dinheiro, o que se podia fazer era a reconstituição do dia 3 Maio 2007, com pais e amigos e testemunhas e isso podia trazer a verdade”, considera ainda.
Amaral diz que Bruckner está preso por “violação que não existiu”
Estas novas buscas na barragem do Arade terão sido motivadas por informações dadas por um traficante de seres humanos, condenado no Reino Unido, sobre o alemão Christian Bruckner que é apontado pela polícia alemã como o principal suspeito do desaparecimento de Maddie.
“Essa pessoa chegou e disse que este alemão [Bruckner], uma vez num festival no sul de Espanha, lhe confidenciou que era responsável pelo desaparecimento de Maddie. Era um indivíduo que vivia em Portugal, que tinha cometido alegadamente o crime em Portugal, a investigação corria em Portugal, então, porque é que os ingleses em vez de remeterem para o nosso país remetem para a polícia alemã?”, questiona Gonçalo Amaral.
“É desde essa altura que se constrói um perfil em relação a este indivíduo que está detido até por uma violação que aconteceu lá perto (da Praia da Luz), violação que não existiu“, afirma ainda o ex-PJ.
Bruckner está a cumprir uma pena de prisão na Alemanha, depois de ter sido condenado pela violação de uma idosa norte-americana no Algarve, em 2005.
“Neste caso de violação de 2005, o exame ginecológico realizado no Hospital de Portimão, na noite em que aconteceu o alegado crime, mostra que não houve violação”, refere Gonçalo Amaral à RR.
“O exame tinha relatório escrito à mão e o tradutor disse que era ilegível, não foi tido em conta no processo, mas nem perguntaram aos colegas portugueses. O indivíduo está preso por algo que não existiu. Foram ainda recolhidos na casa da mulher os lençóis, etc…, e nada foi encontrado que tivesse vestígios deste alemão”, atira o ex-PJ.
Gonçalo Amaral também critica as alegadas provas da polícia alemã quanto à localização de Bruckner perto do empreendimento turístico de onde Maddie desapareceu.
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“Fala-se de um telemóvel e nem conseguem provar que aparelho usava e também não o conseguem meter dentro do apartamento. Há uma lista de pedófilos e assaltantes naquela zona e essa lista foi verificada e ele está lá, mas dizer que há chamada perto do apartamento é mentira”, considera Amaral.
Investigação de Gonçalo Amaral teve “erros flagrantes”
Para a presidente da Associação de Crianças de Desaparecidas, Patrícia Cipriano, o que fica deste caso Maddie, ao cabo de 16 anos, é a “falta de rigor” e os “erros flagrantes” da investigação da PJ conduzida por Gonçalo Amaral.
Patrícia Cipriano refere que houve “contaminação da cena do crime”. “Entrou ali muita gente”, nota em declarações à RR, lamentando ainda que a PJ seguiu “uma tese inabalável” que apontava para a responsabilidade dos pais pelo desaparecimento da menina.
“É normal que, no caso do desaparecimento de uma criança, os primeiros suspeitos sejam os pais, eles são sempre investigados. Mas assentar toda uma investigação numa determinada ideia pré-concebida, que não tem prova que sustente essa tese é, no mínimo, irresponsável“, considera Cipriano.
A descoberta de novos indícios na barragem do Arade pode pôr em causa a investigação portuguesa, acredita a responsável da Associação. Nesse caso, a PJ pode ter de vir a terreiro “justificar as suas falhas, se elas realmente tiverem existido”, conclui.
ZAP // Lusa
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